Algo que a Fá e eu voltamos a fazer nesse ano é colocar as séries em dia. Depois que os Padawans vão para a cama, assistimos um episódio e temos um momento só nosso.

Estamos assistindo a série catalã Merlí. Escrita e criada por Héctor Lozano, a comédia dramática se inicia com o professor de filosofia Merlí Bergeron (Francesc Orella) que, desempregado, passa a morar com sua mãe, Carmina (Ana Barbany), após ser despejado de seu apartamento. Para completar, ele recebe a notícia de que terá de criar seu filho adolescente Bruno (David Solans), já que sua ex-esposa se mudara para a Itália. Merlí consegue um emprego na escola onde seu filho estuda e logo de cara desperta o fascínio dos alunos, causando desconforto entre os professores, pois se utiliza de métodos não ortodoxos e moralmente questionáveis.

A genialidade da série é abordar a filosofia de uma forma que o telespectador se sente dentro de uma sala de aula. Cada episódio de Merlí leva o nome de um filósofo ou uma escola filosófica, mas os temas não são aprofundados a nível acadêmico, mas são zelados no nível da reflexão cotidiana.

Impossível não se interessar por filosofia ao assistir Merlí. Confesso que a cada episódio eu me sinto transformado de alguma maneira e também sinto estar mais perto do sentido da vida e da felicidade. Parece exagero, mas Merlí tem esse poder.

Francesc Orella é um ator sensacional. Ele consegue transformar o Merlí no famoso bom mau caráter. Por falar sempre o que pensa, sinto um pouco de inveja dele, pois desamarrar dos laços da sociedade parece ser bem libertador! E em Merlí temos um deslumbre disso.

Não posso deixar de falar da relação de pai/filho que a série carrega. Vários personagens tem seus dramas particulares e algo em comum, em praticamente todas elas, é a figura paterna (ou a falta dela).

Merlí era um pai ausente que está aprendendo a ser pai. Na segunda temporada temos um episódio sensacional sobre o filósofo Kant, que cobrava a moralidade plena. Porém Merlí adota um modelo de moralidade conveniente, despido da problemática culpa judaico-cristã. Nesse episódio tem uma das melhores cenas de Merlí, onde ele contracena com a sua mãe, Carmina (Ana Barbany), e mostra o conflito que sente em ser pai. Nesse episódio você não sabe o que é verdade ou mentira. É uma montanha-russa do começo ao fim.

Alías, que atriz é a Ana Barbany!

Ana Barbany e Francesc Orella

Se seu filho/filha tem mais de 14 anos, vale assistir com ele. Muitas vezes temos a impressão que estamos assistindo uma mistura de Malhação com A Sociedade dos Poetas Mortos e, acredite, isso é bom! Drama adolescente misturado com um professor nada ortodoxo pode ser um ponto de partida para iniciarmos certas conversas com os nossos filhos e filhas.

Algo que estranhei no começo da série é a língua. No começo fiquei confuso pois parecia espanhol, mas tinha a impressão que muitas vezes ele falavam francês, português, italiano e até mesmo latim! Depois me liguei que eles falam catalão! O ritmo da língua é algo a parte que faz a série mais especial ainda.

Merlí é tão caprichada que até a abertura merece atenção. Uma mosca voando ao som do Vôo do Besouro, de Nikolai Rimsky-Korsakov. O inseto é referência à Socrates, pois ele dizia que era uma mosca chata a importunar os atenienses com seus questionamentos e desafios.

Merlí tem 3 temporadas e está disponível na Netflix. Não perca tempo e assista essa série, pois é uma que você sentirá muita falta quando acabar!