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13 Reasons Why: O que os pais aprendem com a série?

Há alguns anos trabalhando em escolas, percebendo as relações que ali se estabelecem e as dúvidas e apontamentos que os pais trazem nas reuniões, fica cada vez mais evidente que os pais não conhecem seus filhos.

Creio eu que ninguém nunca teve e nem nunca terá conhecimento e controle total sobre a vida do outro. Isso é meio que óbvio até. Mas muitos de nós acabamos nos subjugando e nos culpando quando não conseguimos atender 100% as expectativas de alguém. Agora, imagine isso na cabeça de uma criança.

Se nem nos tempos em que papai trabalhava e mamãe ficava em casa exclusivamente dedicada às crianças era possível ter esse tipo de proximidade, imagine hoje que nos vemos obrigados a trabalhar cada vez mais, enfrentar trânsito, problemas do dia a dia, correria pra todo lado e, no fim das contas, passar apenas algumas horas com aquele pequeno ser que recebeu estímulos, informações e vivenciou centenas de coisas o dia todo.

Às vezes nos esquecemos deste simples detalhe: eles têm muito mais referências fora de casa, passam mais tempo com outras crianças/amigos/grupos e, em grande parte dos casos, não comentam o que vivenciaram no dia. Ou ao menos não tudo. Em especial os pré-adolescentes e adolescentes, que estão na época de encontrar novas tribos, se encontrarem e se identificarem com algo. O mundo que vivemos hoje não é o mesmo que tínhamos nas nossas épocas, e nem será o mesmo para nossos netos e bisnetos. Precisamos estar atentos e nos manter atualizados.

Por mais que hoje a informação acabe chegando mais rápido pra todos e meio que homogeneizando os comportamentos e gostos, é incalculável o tanto de variáveis que levam os nossos Jovens Padawans a se identificarem com algo e tentarem ser/viver/experimentar coisas diferentes, e normalmente não é no pai e na mãe que eles vão procurar apoio para o compartilhamento das novidades ou busca de ajuda e informações para novas vivências.

Isso pode ser sim um problema, dependendo das circunstâncias e do tipo de informação que eles recebem, e por conta disso que temos que ter jogo de cintura e buscar criar laços de confiança que façam com que eles nos busquem. Talvez não seremos melhores amigos e maiores confidentes, mas só de saber o que estão passando, onde estão se informando e com quem estão compartilhando, já é um passo de grande importância. E isso em todas as esferas, online e offline.

Um exemplo perfeito disso esta na série 13 Reasons Why, que está na segunda temporada na Netflix. O tema tratado, bullying, as vezes não é levado em consideração por muitos. Há quem considere frescura, exagero ou irrelevante, mas temos que olhar com mais atenção à causa.

Na série, um grupo de adolescentes passa por várias situações que acabam ocasionando o suicídio por parte de uma das vítimas de bullying, e agora na segunda temporada eles exploram o julgamento do caso, mostrando diferentes perspectivas de todos os envolvidos, direta ou indiretamente, nos levando a refletir, entender e se por no lugar dos personagens, tendo uma melhor percepção do porque das coisas terem acontecido, os impactos causados e como somos vulneráveis e suscetíveis à mudança no nosso comportamento e pensamentos de acordo com as coisas e pessoas que temos ao nosso redor, principalmente durante o período escolar que é quando estamos formando nossa personalidade.

Durante toda nossa vida enfrentamos situações de provocação, brincadeiras que não gostamos muito, discriminações por motivos diversos, disputas movidas por ciúmes ou inveja, e etc, mas, quando adultos, torna-se um pouco mais fácil de lidar com isso. Para a criança tudo é mais intenso, pois eles ainda não têm informação e conhecimento pra entender que as situações podem mudar e as coisas podem ser diferentes, então acabam sofrendo muito mais com tudo o que lhes acontece.

Confiar na instituição na qual nossos filhos estudam, conhecer o corpo docente e coordenação, manter laços com todos e estar ativo na vida acadêmica das crianças pode certamente amenizar e muito qualquer tipo de problema, mas não pense que os conflitos não vão existir. E sim, eles precisam existir para que discussões e experiências possam acontecer e ajudarem na evolução e aprendizado de todos nós.

Creio que vale se informar mais sobre o bullying e suas implicações, como as relações se dão, como identificar alterações no comportamento das crianças que indiquem que estão passando por algo, e investir tempo se aproximando ao máximo delas, entendendo e ajudando, não simplesmente deixando que as coisas aconteçam.

Quando pequenos é mais fácil influenciarmos, pois dependem muito dos pais. Mas mesmo assim a configuração de tudo o que veem e absorvem é completamente diferente do que nós temos. Basta tentar lembrar como você pensava com dois, cinco, dez, ou quatorze anos. Ainda temos uma pequena ideia. Eles sequer imaginam que há um mundo além do deles, tipo o nosso. Então, independente da idade, converse com seus filhos sobre os gostos deles, os jogos que eles curtem, o que gostam de ler, onde gostam de passear, quais esportes admiram, quem são seus ídolos. Mostre semelhanças entre seus gostos e os gostos deles, proponha atividades juntos tanto “no mundo deles” como no nosso. Crie vínculos.

Nada disso garante o sucesso em todas as relações e em todos os momentos. Assim como nós, eles também querem os momentos deles, pra eles. Todos nós precisamos de um tempo a sós pra criar algo, resolver um problema, e até mesmo pra viajar na maionese. Então saber a hora de apertar ou afrouxar a aproximação, procurar entender os momentos certos de bater um papo ou propor algo, e manter-se em uma distância segura pra não invadir mas também não abandonar, é algo que demanda sim bastante trabalho, mas que no final das contas vai compensar e muito!

Te vejo na próxima? Um abraço!

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Autor: Igor Lopes Teixeira é Professor de Educação Física do Ensino Infantil, Fundamental 1 e 2, Pós Graduado em Psicomotricidade e Entusiasta do Desenvolvimento Humano.

Imagens via Netflix e www.shutterstock.com

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