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Adolescência, limites e o eterno “E se”: aprendizados na prática

Tem coisas que só aprendemos levando na cabeça. Outro dia, o Padawan combinou com um amigo de assistir ao anime Demon Slayer no cinema (aliás média 98% no Rotten Tomatoes). A Fá e Eu já tínhamos avisado que o filme era para maiores de 18 anos e que eles não poderiam entrar. Eles insistiram que, com autorização dos responsáveis, estaria tudo certo. Explicamos que não, mas não adiantou.

A Fá, paciente como sempre, foi com eles até a bilheteria. Resultado? Não deixaram assistir e eles tiveram que escolher outro filme. Foi um daqueles momentos clássicos da adolescência: só acreditam quando a vida mostra na prática.

E esse episódio não é exceção. O Padawan, com seus 15 anos, vive uma fase que mistura curiosidade, teimosia e uma boa dose de criatividade para questionar absolutamente tudo. A mania dele é soltar o famoso “E se…?” para qualquer situação.

Haja paciência.

Por que adolescentes testam tanto os limites?

A adolescência é um período de transição em que o cérebro ainda está em pleno desenvolvimento. O córtex pré-frontal, responsável por decisões racionais e pelo controle de impulsos, só amadurece completamente por volta dos 25 anos. Isso significa que, até lá, o adolescente tende a agir mais pela emoção e pela experimentação.

Segundo a psicóloga Rosely Sayão, especialista em educação e comportamento de jovens, questionar e desafiar faz parte do processo de construção da autonomia. Ao dizer “E se?”, o adolescente não está apenas provocando os pais. Ele está exercitando a possibilidade de que a realidade não seja tão rígida quanto parece.

Essa curiosidade é saudável, mas ao mesmo tempo coloca os adultos à prova. Cabe aos pais estabelecerem limites claros, mesmo que eles sejam testados repetidas vezes.

O famoso “E se…” como forma de raciocínio

Pode parecer irritante, mas o “E se…” tem um lado positivo. Ele mostra que o adolescente está pensando em alternativas, exercitando a criatividade e se preparando para lidar com frustrações. O problema é quando esse raciocínio serve apenas para burlar regras ou insistir em algo que já está definido.

No fundo, o “E se…” é uma versão juvenil daquilo que os adultos chamam de pensamento crítico. A diferença é que, para eles, tudo ainda é possível. O tênis 32 pode sim caber em um pé 38, desde que alguém queira acreditar.

Limites e aprendizado na prática

A experiência no cinema com Demon Slayer foi uma lição valiosa. Não adiantava explicar, argumentar ou desenhar. Eles só entenderam quando ouviram o “não” da bilheteria. E esse tipo de aprendizado é poderoso.

Segundo a psicóloga Maria Helena Vilela, que atua com adolescentes há mais de 30 anos, a vivência concreta é o que realmente ensina nessa fase. O jovem precisa experimentar o limite para compreendê-lo. Quando o pai ou a mãe dizem apenas “não pode”, isso soa como uma regra arbitrária. Mas quando a realidade mostra o porquê, a mensagem se fixa de forma muito mais forte.

Ou seja, faz parte deixar que eles testem, errem e aprendam. Claro que, como pais, temos que avaliar o risco. Não dá para permitir tudo. Mas quando o erro não traz grandes consequências, deixar que aconteça pode ser mais educativo do que mil discursos.

Como os pais podem lidar com isso

  1. Estabelecer limites claros – O adolescente precisa saber onde estão as regras. Mesmo que ele questione, a clareza dá segurança.
  2. Permitir erros controlados – Quando o erro não é grave, vale deixar que a vida ensine.
  3. Dialogar sem ironia – O “E se…” pode ser cansativo, mas responder com calma ajuda a manter o diálogo aberto.
  4. Reconhecer o pensamento crítico – Mostrar que valoriza a criatividade, mas explicar onde ela se aplica e onde não cabe.
  5. Dar o exemplo – Os adolescentes observam mais do que escutam. Se você respeita limites, é mais provável que eles aprendam a respeitar também.

O papel do humor e da paciência

Não vou mentir: muitas vezes o “E se…” do Padawan me tira do sério. Mas também aprendi a encarar isso com humor. Porque no fim das contas, esse jeito insistente de questionar é apenas mais uma fase do crescimento. E como toda fase, passa.

A adolescência é como um laboratório. Eles testam hipóteses, desafiam regras, buscam brechas. E cabe a nós, pais, sermos ao mesmo tempo cientistas pacientes e guardiões atentos. Não dá para impedir que eles façam perguntas, mas dá para guiar as respostas.

Conclusão

Ter um adolescente em casa é conviver diariamente com o “E se…?”. Pode cansar, pode irritar, mas também pode ensinar. No caso do Padawan, ele aprendeu que não basta querer. Algumas regras simplesmente não mudam, mesmo com toda a insistência do mundo.

E nós, como pais, também aprendemos. Descobrimos que explicar nem sempre resolve. Às vezes, é preciso deixar a vida ensinar. E se isso não der certo? Bem, sempre haverá outro “E se…” na esquina para continuar o aprendizado.

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