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25/04/12

Jogo (não tão) Justo: Moacyr Alves quer taxar o Steam?

> Autor: Ronaldo Gogoni > Categoria: Colaborador Nerd, Video Game

Há algum tempo atrás, Moacyr Alves surgiu com a proposta de lutar por preços de games mais acessíveis no Brasil e, claro, foi bem recebido pela comunidade que paga os olhos da cara em jogos comercializados aqui. Nascia o Jogo Justo, projeto conjunto entre a entidade criada pelo Moacyr, a Acigames (Associação Comercial e Industrial de Games – eu fiquei com os dois pés atrás sobre sua criação, mas relevei), produtoras de games, lojistas e consumidores que visa, entre outras coisas, mudar a classificação dos games de “jogos de azar” para “conteúdo cultural”. A ideia inicial era realizar campanhas em dias específicos com descontos significativos em games (e com os gamers fazendo sua parte e comprando) para chamar a atenção do governo dizendo “ei, o Brasil tem mercado consumidor, que tal uma mãozinha?”

Os problemas começaram já na primeira edição do Dia do Jogo Justo: as redes de varejo aproveitaram para se livrar de jogos encalhados, ou por serem velhos ou por serem ruins; o melhor exemplo é Bioshock 2, que é uma bela porcaria, estar em promoção até hoje! Esse “deslize” foi sanado nas edições seguintes, até jogos recém-lançados como Street Fighter x Tekken entraram em promoção, mas claro que alguns refugos permaneceram nas opções de compra.

O tempo passou, Moacyr virou conselheiro do Ministério da Cultura e quando todo mundo achou que chegou a hora, o discurso mudou. Veja entrevista concedida ao programa Checkpoint, feito por alunos do Senac (pule para 17:50, a parte sobre o Steam começa lá):


Quem trouxe a discussão à tona foi o blog Mais de Oito Mil.

Para quem não sabe, o Steam é um serviço de distribuição online de jogos para computador; você compra seus jogos e paga um preço muito mais em conta já que não há custos com mídia física ou transporte (sem mencionar as promoções malucas que volta e meia aparecem por lá).

Jogo não tão Justo Moacyr Alves quer taxar o Steam?

Senão vejamos:

Moacyr diz que negociou com um representante da Valve sobre a possibilidade da mesma abrir um escritório no Brasil; o representante teria respondido que não há motivos para abrir uma sede aqui, sob argumento de que “o brasileiro já compra deles de qualquer jeito”, o que não está errado. Mas agora na condição de conselheiro (sou só eu ou isso soou como rancor?), ele vai “regulamentar” a distribuição digital pois, palavras dele:

“(…) ela bate de frente com os lojistas, que é o mercado que está iniciando agora.”

Os pontos que ele frisou como necessários para instalação do Steam no Brasil seriam:

  • Obrigar o Steam a ter servidores no país;
  • Submeter a empresa às leis brasileiras, incluindo o Código de Defesa do Consumidor;
  • Fazer com que ela gere empregos locais;
  • Fazer com que ela recolha toda a gama de impostos brasileiros e permitir a livre concorrência entre o Steam e lojistas brasileiros.

O motivo: o comércio de games digitais “não recolhe impostos no Brasil” e seria, por isso, “ilegal”.

Muito bem, vamos por partes:

Em primeiro lugar, o mercado de games no Brasil não é novo, a primeira representante oficial de de uma empresa de videogames no Brasil foi a Philips, ao trazer o Odyssey² (chamado só de Odyssey, já que o primeiro modelo nunca veio para essas bandas) em 1983; depois foi a vez da Polyvox com o Atari 2600, da Tec Toy com a Sega e finalmente da Playtronic com a Nintendo. Dizer que o mercado está começando agora é insultar a inteligência do consumidor.

Sobre impostos: a verdade é que quando você compra um jogo no Steam, você paga 6,3% do valor da compra em IOF, ou seja, o governo está, sim, recolhendo impostos. Resumindo, Moacyr mentiu (ou foi “mal interpretado”, como ele alegou após um sem número de questionamentos recebidos). Para completar a total falta de conhecimento dele, não há legislação que regulamente o comércio digital no Brasil, logo, o Steam não está ilegal, pois não existe lei alguma sobre isso. Não obstante o Steam possui, sim, servidores dedicados no Brasil.

Falando sobre a intenção de “proteger o mercado nacional” como Moacyr mencionou: como bem apontado no post do Bruno Maeda, toda vez que apareceram com essa conversa as consequências sempre foram piores para o nosso mercado do que para o estrangeiro, pelo fato de que o governo é completamente inepto (ou não tem interesse) para resolver essa situação; ao invés de desonerar o comerciante nacional e criar uma concorrência real, o governo joga toda a responsabilidade fiscal também no estrangeiro, prejudicando ambos (até porque não é interesse do governo reduzir a arrecadação de impostos). É bom lembrar também que a Acigames protege as redes de comércio afiliadas à ela (e que pagam mensalidade), e são elas as únicas autorizadas a participar das ações promocionais. Apesar da bandeira inicial do Jogo Justo ser beneficiar o jogador, o desenrolar dos últimos acontecimentos jogam uma nuvem de incerteza sobre a isenção de impostos prometida por Moacyr Alves.

E agora, Moacyr?

Isso sem mencionar a cobrança de um imposto “de 5%, menos do que se paga de IOF”, segundo ele próprio, no Twitter, com o objetivo de criar um SAC nacional (que já existe) e de forçar a melhoria do serviço (que vai muito bem, obrigado). Isso é criar mais um problema a se somar com os atuais, dada a carga tributária insana que possuímos. Essa alíquota de 5% será um novo imposto ou um que já existe? Ele substituirá o IOF ou será cobrado em cascata? Será o único a ser cobrado?

Enfim, mais perguntas do que respostas. É inadmissível que Moacyr Alves, na posição de presidente da Acigames e conselheiro do MinC não possua uma acessoria de imprensa e solte declarações vagas (e mal pontuadas) nas redes sociais. Como o Maeda disse, isso tem cheiro de lobby; no caso dessa regularização acontecer de fato, quem mais sairá ganhando é o governo, pois aumentará substancialmente o valor de impostos arrecadados, além de submeter os jogos da Steam à regulamentação do Ministério da Justiça, que já ocorre com a SEN (antiga PSN) e a Xbox Live, que causa atraso no lançamento  e oneração no preço final dos jogos; para os comerciantes nada muda, mesmo que haja redução de impostos o movimento óbvio é manter os preços atuais e aumentar a margem de lucro (iPhone quem?); os consumidores serão, como sempre, os que irão pagar a conta; e Moacyr Alves vai ficar com o filme queimado ao servir como bode expiatório, por não saber como funciona o jogo político.

Enquanto não sai uma posição oficial sobre a regularização do comércio digital no Brasil (que pode se estender à App Store e ao Google Play; a Microsoft já recolhe impostos), ficamos com as declarações de Moacyr, pois é o que tem para hoje. Mas estamos de olho.

06/01/12

Anonymous, pirataria e uma SOPA indigesta – by @Cyber_Ramses

> Autor: Ronaldo Gogoni > Categoria: Post de Amigos

As palavras do título estar entre os assuntos mais comentados de 2012, logo atrás das olimpíadas, as eleições americanas, os lançamentos da Apple e a próxima gafe da Kim Kardashian. Correm no congresso e no senado americanos dois projetos de lei que, caso sejam aprovados, afetarão todos os mais de 1,5 bilhão de internautas conectados ao mudar a forma como a própria rede é administrada e utilizada. Mas vamos por partes: o que são  SOPA e PIPA, quem são os players e, mais importante, o que você tem a ver com tudo isso?

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>> Os Projetos

O SOPA, acrônimo para Stop Online Piracy Act, que tramita na câmara, e o PIPA, Protect IP Act, que corre no senado, são projetos de lei de apoio bipartidário (pouca grana na jogada, hein?) que visam proteger o patrimônio de grandes empresas do entretenimento, com o discurso de combater a distribuição de conteúdo ilegal. Na prática o projeto atingiria grandes empresas e startups que dependem de conteúdo gerado pelos usuários.

Caso sejam aprovados, o Ministério da Verda… err, o governo americano teria o poder de policiar a internet (mais ainda?); sites com conteúdo pirata seriam bloqueados, seus endereços seriam eliminados dos motores de busca e anúcios e pagamentos via PayPal e similares seriam vetados. Não obstante, devido a linguagem vaga dos projetos, portais, sites de busca, redes sociais e provedores também seriam responsabilizados pelo material ou links que abrigam, e estariam suscetíveis às mesmas penas. Não deixa de ser uma forma de censura.

O arranca-rabo é justamente sobre essa última parte, em que de um lado estão gravadoras, estúdios, editoras, indústrias farmacêuticas e outras, tais como Warner, Disney, Marvel, DC, Pfizer, Tiffany co., Universal Music, EMI, ESPN, Visa, Mastercard e etc.; do outro, grandes empresas de tecnologia como Google, Yahoo!, Facebook, Twitter, eBay e outras. Os que são contra alegam que o projeto simplesmente mataria seu modelo de negócios, que é exatamente os que são a favor querem, mas não admitem, já que estes estão perdendo mercado para aqueles ao não acompanharem o progresso. Os PLs nada mais são que duas muletas para amparar os jurássicos donos de direitos autorais. Cinco grandes empresas que apoiavam o ato mudaram de lado, mas daqui a pouco digo quais são e explico por quê.

>> “Aja normalmente, obedeça e lei e repita comigo: Eu sou livre.'”

Você aí para e pensa: “e eu com a light? Os americanos que se danem, eu sou livre e o Brasil têm suas próprias leis.” Calma, fio. Enquanto eu explico no que esses PLs vão afetar a sua vida, sente ali com a Cláudia e fique quietinho.

Num primeiro momento, a internet americana viraria terra de ninguém, com todas as empresas apontando seus dedos em riste para sites, blogs e o que mais lhes prover em busca de material pirata ou não licenciado. Entenda: o simples fato de você postar uma foto de Star Wars num post falando bem do último box, inclusive linkando para um site de compras seria motivo para a Lucas Arts processa-lo por uso indevido de imagem, e isso vale para sites e blogs dentro ou fora dos Estados Unidos, o motivo do bloqueio é o conteúdo. Por tabela, o Google receberia a mesma pena aplicada ao seu blog, caso o post estivesse indexado no seu banco de dados. Como o governo americano†”ama” blogueiros, eles seriam o primeiro alvo. As punições seriam as já citadas: bloqueio do site, exclusão dos links nos sites de busca, veto de anúcios e pagamentos. O uso de qualquer imagem, marca, logo, vídeo ou similar deveria ser devidamente autorizado previamente e, convenhamos, isso limitaria e muito a criatividade e a inovação; em consequência, startups minguariam.

Sem conteúdo, diversos sites e iniciativas pequenas ficariam sem meios de sobreviver. Imaginem esses PLs valendo dez anos atrás: não teríamos Twitter, Facebook, YouTube, SoundCloud, MediaFire, Dropbox… a auto-censura limitaria a possibilidade de empresas pequenas desenvolverem material próprio, e muitas nem sairiam do papel.

Ações contra pessoas comuns por postarem material com copyright seriam mais comuns. Sua filhinha de 5 anos cantando no Youtube, com um trecho de “Lucy in the Sky with Diamonds” de fundo? Processo direto, para o usuário e o site. Questiono até mesmo se versões de cantores se enquadrariam em material protegido, mas isso não vem ao caso por hora.

E o mais importante: caso os PLs sejam aprovados, é questão de tempo até outros países copiarem a ideia. A França já tem uma lei regulatória em vigor, e a Espanha aprovou, na última terça-feira, uma lei similar à SOPA. Lembrando que aqui no Brasil temos tramitando no Congresso Nacional a PL 84/99, carinhosamente apelidado de “AI-5 Digital”, que possui similaridades com o SOPA, mas nesse caso, o fator mais polêmico em questão é o vigilantismo na internet, já que a Lei Azeredo prevê que todos os nossos dados sejam arquivados pelos provedores e disponibilizados ao governo quando eles bem entendessem. Mas isso é assunto para outro post.

>> Vingança sem Rosto

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Claro que o Anonymous não ficaria quieto. Nascido em 2003 no 4chan, o grupo é mais uma hivemind do que uma organizacão propriamente dita. Não há um líder, um rosto, uma voz, nada. Qualquer um pode ser um anonymous, já que basta não assinar seu nome em qualquer post/manifestação/ato e você é um “anônimo”. O objetivo do grupo é tornar o mundo “mais justo” ao chamar a atenção das grandes empresas que tentam cercear o acesso ao conhecimento e conteúdo que o grupo julga livre e, portanto, bem comum de todos.

Quando o burburinho em torno do SOPA cresceu, o Anonymous soltou um aviso ao governo americano que não tolera  a censura da internet, e conclamando todos a protestarem dentro e fora da rede. Caso nada mudasse, o governo veria “que nós somos uma verdadeira legião”.

 

 

Percebendo que mostrar a bunda para arqueiros é coisa de escocês, Apple, Microsoft, Electronic Arts e Nintendo, que apoiavam o SOPA rapidinho mudaram de lado. A Sony fez que não viu, até que o Anonymous soltou um vídeo especialmente dedicado a ela, prometendo a completa aniquilação da empresa. Sobrou até para artistas que apóiam o ato, como Justin Bieber, Lady Gaga e Kim Kardashian (sempre ela). Uma divisão da empresa agora é contra o ato (possivelmente a Sony Entertainment, que cuida do PS3 e da PSN, afinal, gato escaldado…), mas a Sony Music, por razões óbvias, ainda é a favor.

>> O que eu posso fazer a respeito?

Não há muito a fazer, dado o lobby absurdo das empresas a favor do SOPA. Mas além do Anonymous, as pessoas estão se movimentando: uma petição online no site da Casa Branca que já conta com mais 40 mil assinaturas (é preciso um ménimo de 25 mil para receber uma respota oficial). A cereja do bolo é que o criador da petição anexou dois links, um com um discurso de Barack Obama onde ele critica a censura na China e elogia a livre circulação de conteúdo, e outro com uma imagem com copyright; caso o SOPA passe, o próprio site da Casa Branca seria tirado do ar! Obama, claro, não respondeu.

Outro movimento que surgiu recentemente é o de hackers alemães, que desejam colocar satélites em órbita para driblar a censura. Demanda muito trabalho e dinheiro, mas o mundo não é feito por aqueles que ficam morgando num quarto escuro comendo Cheetos.

As dicas que deixo são as básicas: como temos uma lei similar em vias de ser aprovada no Brasil, converse com seus amigos, chame a atenção de seus representantes, se informe, assine petições, enfim, faça valer seus direitos. Um dos mais ferrenhos opositores ao AI-5 Digital é o sociólogo e defensor do Software Livre Sérgio Amadeu, sigam-no no Twitter e acompanhem o trabalho dele. Se a comunidade online não se mexer, todos seremos obrigados a engolir uma sopa pra lá de amarga.

Ronaldo Gogoni, 31 anos, É tecnólogo do curso de Análise e Desenvolvimento de Sistemas da FATEC-SP, aspirante a programador, gamer inveterado e curioso sobre tudo. … “o cara do suporte” e gosta de falar sobre tecnologia, videogames e comportamento. Est· solteiro e disponível. 🙂 – @Cyber_Ramses