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O mundo é bão, Sebastião: Game Review – Bastion

Há algum tempo atrás, escrevi um post em meu antigo blog onde refletia sobre videogames como obras de arte. De lá para cá tivemos bons exemplos que misturaram arte e entretenimento, mas curiosamente esse tipo de jogo foi meio que absorvido pelos desenvolvedores independentes, na forma dos cultuados indie games. Braid e LIMBO são dois que joguei muito e deixam questões mirabolantes na cabeça após terminá-los, mas no que diz respeito a contar uma bela história de forma única, ambos não se comparam a Bastion.

Desenvolvido pela estreante Supergiant Games (uma empresa que, apesar do nome, possui apenas sete funcionários) e disponível para Xbox Live Arcade, Windows, Mac OS X, Linux e Google Chrome (sorry Sonystas – eu incluso -, mas com tantas plataformas, não jogar não é opção), o jogo narra a história de um garoto sem nome (ele é chamado apenas de “Kid”) que acorda em uma cidade arrasada flutuando no céu. A princípio ele alcança o Bastion, o último porto-seguro, para onde todos os moradores de Caelondia (o nome da cidade) deveriam fugir caso ocorresse algum problema. É lá que conhecemos o narrador da história, que se apresenta como Rucks. A partir daí sua missão é coletar fragmentos e por o Bastion para funcionar, pois segundo Rucks, ele é capaz de reverter a Calamidade que se abateu sobre a cidade. Posteriormente você encontra dois sobreviventes, Zulf, um embaixador dos Ura, um povo com o qual Caelondia já havia travado uma guerra, e Zia, uma garota Ura criada em Caelondia. Com o desenrolar do game, vamos descobrindo pequenas nuances que vão moldando a história, como a causa da Calamidade, a guerra ocorrida entre Caelondia e Ura e o sentimento de ressentimento que permaneceu em ambos os povos (isso é notado em Rucks, que não é nem um pouco imparcial em seu ponto de vista), o passado do garoto e dos demais personagens (que são contadas em mini-quests que vão se tornando disponíveis com o avançar da história), já que no começo você é jogado numa situação sem nenhum background.

Sobre o game: Bastion é um action-RPG com visão isométrica (certeza que os developers são fãs de Diablo) um tanto linear, mas mesmo isso fará sentido com o avançar da história. Sobre a jogabilidade, há diversas armas disponíveis: martelo, pistolas, machete, mosquete, lança-chamas e outras. Elas podem ser evoluídas e equipadas com poções, que podem aumentar o dano, alterar o elemento da arma, etc. Há outras poções que você equipa no Kid para aumentar life, aumentar dano, causar critical hit com pouco life… customizar de forma inteligente é a chave para enfrentar as diversas situações do game, como concluir os desafios das armas e fechar as mini-quests com mais facilidade.

Um dos pontos mais interessantes do jogo é justamente a narração full-time, que é relevante ao que você estiver fazendo no momento: por exemplo, se no começo do game, ao adquirir o martelo, você parar para destruir o cenário, Rucks dirá: “e ele simplesmente ficou por lá testando seu martelo”. Essa interação é muito legal e casa muito bem com o visual do game. Vale dizer que a razão do jogo ser narrado dessa forma se explicará no final do game.

Falando no visual, Bastion conta com uma arte 2D maravilhosa, criada pela bela artista Jen Zee. Aliás, Bastion é seu primeiro grande trabalho, o que é ainda mais absurdo, dada a beleza e suavidade de seu traço! O efeito in game é muito legal, com o cenário se construindo aos poucos enquanto você avança, tijolo por tijolo.

E por fim, a música: descrita como “acoustic frontier trip-hop”, a trilha sonora de Bastion é belíssima! Todas as músicas foram compostas pelo one-man-band Darren Korb e não só isso, ele também compôs os efeitos sonoros e dirigiu e editou toda a narração do game, com o ator Logan Cunningham dando voz a Rucks. A trilha ganhou inúmeros prêmios em 2011, e a canção Build That Wall (Zia’s Theme)  ganhou o prêmio de Melhor Canção num Game de 2011 no Spike Video Game Awards. Vale lembrar que tanto essa música quanto Mother, I’m Here (Zulf’s Theme) e Setting Sail, Coming Home (End Theme) tem um significado intrínseco ao game, suas letras dizem muito sobre o momento em que tocam.

Falando um pouco do desenvolvimento do game, a Supergiant Games foi fundada em 2009 por ex-profissionais da indústria do videogame, o que causou certo estranhamento na PAX 2010, uma feira para desenvolvedores indie. “O que esses mainstreams estão fazendo aqui?” era o pensamento geral. Mas a qualidade do game suprimiu todas as reclamações. O desenvolvimento do game foi acompanhado pelo site Giant Bomb, e o registro virou o documentário “Building the Bastion”, que pode ser acompanhado aqui: [1][2][3][4][5]

Por fim, Bastion é um game para se jogar com calma para curtir a história, o visual e a música, e também tem um desafio crescente para jogadores mais exigentes. Foi um dos melhores games que joguei nos últimos tempos, e recomendo fortemente.

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