É evidente que os Padawans hoje em dia estão cada vez mais presos e acabam por não saberem lidar com várias sensações e emoções. Estamos a todo tempo superprotegendo e garantindo que estejam sempre bem, como se fossem um boneco do The Sims. Os pais não estão deixando espaço para que os filhos vivam.
Devemos estar sim atentos à suas experiências, sua saúde e cuidar pra que não sofram além do “saudável”, mas não necessariamente privando-os do mundo.
Passar algumas horas sem comer ou beber água, brincar na rua descalço, cair e se ralar todo, tomar água da torneira, brincar no barro, correr até não conseguir respirar e precisar parar, subir numa árvore ou no brinquedão do restaurante e talvez ter um ralado ou outro, cair no sono profundo sem tomar um banho, ficar com calor, com frio, se resfriar e perceber que não foi uma boa ideia estar exposto. Tudo isso faz parte do desenvolvimento dos jovens Padawans. Gera anticorpos, permite que sintam coisas diferentes, experimentem, aprendam a lidar com emoções, procurem por ajuda e/ou se virarem quando precisar.
É claro que isso não vem do nada, por osmose. Mas experimente conversar sobre fome ou sede quando eles procurarem por você ao invés de parar a brincadeira no meio da festa pra lhes oferecer comida. Espere eles te procurarem com frio e fale da importância de se agasalhar num dia mais gelado ao invés de encher de blusa, casaco, toca, luva, cachecol e mandar um boneco empalhado pra festinha, para escola ou para o parquinho. Deixe que ajudem nos afazeres domésticos pra perceberem que a casa não se arruma sozinha e que é importante ter responsabilidade. (Mas também aprendamos que uma “baguncinha” aqui ou ali faz parte. Mostra que tem vida na casa. Não pire.)
Chega a ser absurdo o número de crianças com sete, oito anos de idade, que não sabem amarrar o próprio tênis. Os modelinhos bonitinhos com velcro são legais, práticos e ágeis, mas fazem um baita desfavor pra praxia fina dos nossos pequenos.
Na escola vivo num verdadeiro laboratório de observação. Tem os que não sabem se servir na hora de uma refeição e os que fazem até competição de quem come mais balanceando os macronutrientes. Os que precisam de ajuda com praticamente tudo e os que usamos de ajudante pra auxiliar os amigos. Os que se orientam facilmente nos espaços e identificam as coisas que precisam fazer e os que precisam de explicações praticamente diariamente das mesmas coisas. Tudo varia de acordo com as experiências e oportunidades que lhes são dadas.
Mais uma vez: DA TRABALHO! Mas ninguém disse que ter filho era fácil. Só que pode ter certeza que um jovem que soube se virar desde cedo vai ser muito mais grato, mesmo não expressando isso, do que aquele ou aquela jovem que não sabe fazer nada. Aí ele vai ter vários sentimentos de vergonha, mas que poderiam ter sido evitados se os pais os tivesse tirado da sua bolha de segurança.
Autor: Igor Lopes Teixeira é Professor de Educação Física do Ensino Infantil, Fundamental 1 e 2, Pós Graduado em Psicomotricidade e Entusiasta do Desenvolvimento Humano.
Fizemos rapel e a tirolesa no Mavsa | Resort Convention & Spa, um lugar maravilhoso, perto de São Paulo.