Desde os primeiros anos de vida, a criança precisa da presença ativa, dos cuidados, das orientações e do afeto tanto do pai quanto da mãe para desenvolver-se de modo pleno. O arquétipo do pai provedor, frio emocionalmente e não participativo na educação dos filhos está ficando para trás. Atualmente, a figura paterna está apropriando-se do que realmente deve ser: presente, participativo da rotina familiar e da vida do filho.

Esta mudança se deve pelas transformações sociais, culturais e familiares ocorridas. Com o crescente número de mulheres ingressando no mercado de trabalho e conquistando a independência econômica, surgiram novos arranjos familiares. Nessa nova redistribuição igualitária dos papéis dos progenitores, o papel do pai tem sido o principal alvo de transformação.

O pai está buscando dividir as responsabilidades do lar, arrumar o filho para ir à escola, fazer o almoço, auxiliar nas tarefas escolares, orientar quanto aos comporta­men­tos adequados e inadequados, dar afeto e envolver-se nas brincadeiras. Essa participação ativa do pai na vida do filho é essencial para que a criança construa um modelo positivo sobre si mesma, os outros e o mundo. É a partir da interação com o pai que a criança começa a descobrir a relação com as demais pessoas e a desenvolver segurança para explorar este mundo novo.

Os pais são os modelos de referência para a criança. Quando os papéis de mãe e pai são bem trabalhados e divididos, os efeitos são altamente benéficos para o desenvolvimento cognitivo, afetivo e social da criança. Entretanto, quando há ausência emocional e negligência educacional tanto da figura paterna quanto da materna, a sensação de não ser amado e desejado se instala na cognição da criança, podendo levar a grandes prejuízos emocionais e interpessoais quando não tratados.

Quando a criança é rejeitada pelo pai, ela pode se sentir mais insegura e até agressiva. Este repertório de comportamento é refletido em sala de aula através das dificuldades de concentração e baixo rendimento escolar, assim como na sociedade por meio da maior probabilidade de envolvimento com drogas, brigas e infrações sociais. Em contrapartida, o pai que compensa sua ausência superprotegendo o filho, ignorando os comportamentos errados, recompensando as birras e o mau comportamento, reforça as posturas inadequadas da criança. O filho, por sua vez, aprende que os outros devem servi-lo, tornando-se um verdadeiro “imperador doméstico”.

Tais crianças mandam em casa, definem a comida que deve ser servida, o programa de TV, mentem e agridem as pessoas de modo frequente, tanto na casa quanto na escola. Esses repertórios de comportamentos agressivos e hostis ficaram conhecidos pelos profissionais da área da saúde como Síndrome do Imperador, devido a semelhança das atitudes com a dos imperadores.

Mas, então, qual é o modelo de pai ideal? É consenso pelas diversas abordagens da Psicologia, que o pai autoritário, ou seja, aquele que apenas manda, grita e não interage emocionalmente com o filho, não é o ideal, já que a criança tende a ficar com medo da figura paterna e não adquire o respeito, e sim, o afastamento emocional. Ainda existem crianças que reagem de modo hostil e agressivo com os coleguinhas, imitando o pai.

Já o pai permissivo é aquele que não consegue dizer “não” para os comportamentos de birra da criança, tente a ceder ou aceitar os erros para evitar conflitos, ou seja, o choro. Também há o pai indiferente, aquele que nunca tem tempo para participar da vida da criança e da rotina da casa.

Entretanto, há pais que “vestem a camisa” e se tornam recíprocos na educação, ou seja, compartilham as tomadas de decisões, orientam os filhos, participam ativamente da vida e da rotina da criança, sendo verdadeiros exemplos positivos para a criança. Esse é o modelo ideal de pais!

É a partir da complemen­tariedade do pai e da mãe na educação do filho que ocorre a profilaxia ou o reajuste dos comportamentos inadequados da criança, como as birras, os gritos e o desrespeito. Cabe ressaltar que a figura paterna deve ser utilizada para dar orientações seguras e gerar confiança e autonomia para o filho.

Com isso, a criança terá um modelo de crescimento saudável com uma base educacional assertiva e afetiva. Os efeitos deste modelo de educação compartilhada entre pai e mãe são o alicerce para a estruturação de um futuro adulto saudável.

*Lilian Zolet é psicóloga e fisioterapeuta formada pela Faculdade União das Américas (UNIAMÉRICA), e especialista em Saúde Pública e da Família e em Terapia Cognitivo-Comportamental / FOTOS via https://www.shutterstock.com/