Nos últimos anos, Hollywood lançou alguns filmes que retratam personagens que podem ser – ou explicitamente – autistas. Alguns exemplos recentes incluem o vencedor do Oscar, A Grande Aposta, a surpresa do ano passado, O Contador, com Ben Affleck e o Power Rangers. Mas há outra franquia de filmes que ressoa com a comunidade autística: Guardiões da Galáxia. Por quê? Por causa de Drax, o Destruidor.
Ignore a parte “Destruidor” do título de Drax, que ele conseguiu por ter destruído o vilão do primeiro filme, Ronan, O Acusador. Quando você realmente pensa sobre os traços que fazem Drax único em um elenco que inclui um guaxinim falante usando uma metralhadora e uma árvore gigante cujo único discurso é “Eu sou Groot”, você vai achar que ele tem muitas características que alinham com o autismo.
E é por isso que ele se tornou uma espécie de herói para a comunidade autista.
Vamos começar pela característica mais óbvia: Drax não entende metáforas. Ele leva tudo literalmente. Um exemplo disto é quando Senhor das Estrelas, o Peter Quill, faz o gesto passando o dedo na garganta, que significa que alguém vai morrer, Drax pergunta ao Senhor das Estrelas, “Por que eu colocaria meu dedo em sua garganta?” Mesmo quando Rocket Raccoon explica que Drax e seu povo não entende as metáforas e que “eles vão passar por cima da cabeça dele”, a resposta imediata de Drax é, sem dúvida, sua linha mais famosa: “Nada vai sobre minha cabeça. Meus reflexos são muito rápidos. Vou pegá-lo”.
Isto conduz a outro dos traços de Drax que poderiam ser atribuídos ao autismo: ele é extremamente defensivo sobre o que é e não é. Logo antes de Rocket explicar o modo de pensar de Drax, o Senhor das Estrelas o chama de um dicionário ambulante. Drax diz a Quill: “Nunca me chame de dicionário.” É discutível se Drax ainda sabe o que é um dicionário, mas ele certamente sabe que ele não é um. Mais tarde, ele grita em Gamora que ele não é “uma princesa“, embora não tenha nada a ver com o que Gamora está dizendo. Drax sabe exatamente o que ele é, e é Drax. Ele não é uma princesa, ou um dicionário ambulante ou qualquer outra forma.
Ele é Drax e ele não gosta de ser chamado qualquer outra coisa.
Drax também é muito brusco e impulsivo. Fala o que vem na cabeça, como muitas crianças e adultos com autismos. Em uma cena crucial no Vol. 1, Drax se apressa em pedir desculpas a Rocket e Groot por chamar Ronan para Luganenhum, o que resultou na captura do Senhor das Estrelas e Gamora pelos Saqueadores. Então, pouco antes da batalha final, Drax leva um momento para expressar seu apreço a seus companheiros por sua aceitação, apesar de suas inúmeras falhas. Quando ele faz isso, ele ainda é muito literal, chamando Groot de “uma árvore burra” e Gamora uma “prostituta verde“.
Finalmente, Drax é incrivelmente fixado em um objetivo específico. Ao longo do primeiro filme, sua única missão é vingar as mortes de sua esposa e filha, ambas mortas por Ronan. E, depois que Drax finalmente completa este objetivo quando ele e o resto dos Guardiões salvam o planeta Xandar e destroem Ronan, ele ainda reconhece que Ronan, o próprio ser que matou sua família e riu de seus cadáveres, era apenas um boneco e expressa um desejo de matar Thanos, o antagonista do Universo Cinemático Marvel. Drax está tão fixado em seu objetivo que, mesmo quando ele consegue, ele sente que ele é obrigado a fazer tudo de novo.
Mas uma das grandes coisas sobre Drax é que ele é um personagem dinâmico, que cresce ao longo do curso da história e muda como uma pessoa (ou, alien). Até o final do primeiro filme, Drax já redimiu de seus erros, aceitou seus amigos como eles o aceitaram e até aprendeu a entender metáforas – ao despachar Korath, o Perseguidor ele grita orgulhosamente: “Dedo na garganta significa morte!”
Bem, Drax é um personagem autista? Quem sabe. Mas ele, pelo menos, tem muitos traços associados com o autismo. E apesar de ser chamado de “O Destruídor” por muitos, ele é realmente um modelo muito bom para os autistas. Ele trabalha para superar suas deficiências como fazem todos os grandes personagens. Ele também aceita aqueles que não pensam da mesma forma que ele, está pronto e disposto a defender seus amigos, e tem um coração muito amável. Em um elenco onde cada herói tem mais do que algumas peculiaridades e problemas, é fácil ver por que Drax se tornou um ídolo favorito na comunidade autista.
Texto de Michael Precourt – roteirista, ex-crítico de cinema para Private Screening on The Autism Channel e é autista – para o Fatherly