Sempre ia ao cinema sozinho ao voltar da faculdade. Não gostava de dividir minha atenção com amigos ou namoradas. Quando entrava em uma sala de cinema, era para assistir o filme e ponto. Para ter uma ideia, nem pipoca comprava para não gerar distração.
Porém com o Rei Leão foi diferente.
Ao voltar do último dia de aula da faculdade – no dia 8 de julho de 1994 – vi que estava estreando Rei Leão nos cinemas. Como eu morava em uma travessa da Avenida Paulista, o que eu mais tinha era opção de salas.
Comprei o ingresso para a primeira sessão e fui almoçar com calma. Estava entretido com livros quando uma pessoa bateu no meu ombro direito. Era meu pai. Ele trabalhava por ali e tinha ido lá almoçar com uns amigos.
– O que você está fazendo aqui?
Deu vontade de comer aqui e já estou indo para casa.
– Ah, ok! Te vejo à noite.
Não quis falar que iria no cinema, pois vai que ele queria ir junto! Não que eu não gostasse na presença do meu pai, pelo contrário! Como disse, curtia ir ao cinema sozinho.
Ao entrar no cinema, percebi a sala estava cheia e fui logo arranjar um lugar. Já te disse que eu faço contas onde vou sentar no cinema? Então, o melhor lugar fica a dois terços de distância da tela. Uma conta rápida: se a sala tem 15 fileiras, a melhor cadeira é no centro da 10 fileira.
Bem, ao chegar na sala fiz a conta e já tinha uma pessoa lá. Quase desisti da sessão e pensei em comprar outro ingresso. Mas como iria viajar no sábado – dia 08 de julho era o começo das férias – decidi sentar ao lado da pessoa que lá se encontrava.
Licença aqui, licença ali – a sala já estava escura – e finalmente cheguei na cadeira. Um adendo: naquela época não tinha assento marcado e era por ordem de chegada. E qual foi minha surpresa em ver que era o meu pai ali do lado?
Ué, você não ia para casa?
Ia, mas resolvi assistir o Rei Leão, pois vamos viajar amanhã. E você, não ia trabalhar?
Teve simulação de incêndio no prédio e liberaram todos. Então vim para o cinema.
Dei uma risada e curtimos o filme juntos.
O meu pai foi que me levava ao cinema e vários filmes – inclusive Star Wars e Indiana Jones assisti com ele. Adoramos o Rei Leão e ficamos conversando sobre o desenho ao voltar para casa. Foi ali que meu pai virou e me disse:
– Parece que os desenhos estão ficando mais adultos, não? Sabia que esse filme é uma releitura de Hamlet, de Shakespeare?
É, sabia sim. Na faculdade os professores estavam comentando sobre isso.
– Muito bacana! Espero que a Disney continue fazendo desenhos assim!
Meu pai faleceu em 25 de maio de 2015 e hoje, 29 de agosto, é seu aniversário. Ainda é um pouco difícil eu falar disso e confesso que na época de sua morte fiquei sem coragem de assistir Rei Leão novamente, tanto pela lembrança de ter o encontrado no cinema na estreia do filme, há 24 anos, e também por causa da história.
O meu Padawan já assistiu algumas vezes e, inclusive, fomos ao musical aqui no Brasil. Ele AMA e tem até um Simba em seu quarto. Agora é a vez da minha mais nova conhecer o Simba, Timão e o Pumba. Certamente sentirei a presença do meu pai ao mostrá-la o ciclo da vida e da relação entre o pai e o filho. A saudade pelo meu pai é presente, mas não dói mais como antes. E mesmo que minha filha não tenha conhecido seu avô, farei questão de falar que assisti Rei Leão junto com ele. Assim consigo criar, de uma certa forma, uma memória afetiva do avô.
Vida longa ao Rei Leão! E lembrando que o live action da animação estreia 19 de Julho de 2019. Sinta só quem dará as vozes aos personagens: