O piloto está calmo. Ele já passou por situações semelhantes antes, e aquela era apenas mais uma, apesar da dimensão do feito ser infinitamente maior. A 72 metros de distância, o satélite o seduzia. Nesse momento a telemetria retorna: só restam 60 segundos de combustível. O computador de bordo sobrecarregou e foi desligado. Todas as simulações abortavam os testes de pouso a 30 segundos, e ele precisava poupar combustível para o retorno. Só restava uma opção: efetuar o pouso manualmente. O mundo inteiro assistia ao vivo. Era tudo ou nada. Qualquer outro piloto abortaria a missão, mas não um verdadeiro Jedi que realizou 78 missões na Guerra da Coréia e tinha mais de 900 voos como piloto de testes. Ele assume os controles e inicia a descida. 30 segundos. 20. 15. E então sua mensagem irrompe nos falantes, com uma voz serena:
“Houston, aqui é a Base da Tranquilidade. A Águia pousou“.
Dia 25 de agosto de 2012, perdemos esse Jedi. Perdemos um de nossos maiores heróis. Neil Armstrong partiu rumo às estrelas.
Heróis não são aqueles modelos de peito estufado que lemos nos quadrinhos ou vemos na tv. Heróis não são homens que pegam em armas e matam outros homens em nome de uma nação, de uma ideologia ou de uma religião. Heróis para mim são pessoas como o cosmonauta Yuri Gagarin, o primeiro homem a ver a terra do espaço; John Glenn, Alan Shepard e todos os astronautas do Programa Mercury que, respondendo ao chamado do então presidente americano John F. Kennedy, no seu desejo de mandar um homem à lua em 10 anos, iniciaram a corrida espacial; Alexey Leonov, o primeiro a caminhar no vácuo; Valentina Tereshkova, a primeira mulher no espaço; e especialmente Vladimir Komarov, o primeiro a pagar o preço supremo em nome da conquista espacial (aguardem post sobre ele para breve). E claro, os dois cérebros por trás dos programas espaciais americano e soviético, Wernher von Braun e Sergei Korolev.
Muitos, muitos foram os homens e mulheres que venceram os limites da Terra, mas nenhum deles será tão reverenciado quanto Neil Armstrong, Buzz Aldrin e Michael Collins, pois o que eles fizeram em 20 de julho de 1969, quando o módulo pousou na superfície lunar, sob os olhos de bilhões de pessoas apreensivas, acompanhando pelas suas tvs a transmissão ao vivo (claro, considerando a distância de 384 mil quilômetros da Terra à Lua, o delay era de… 1,28 segundos :)), foi épico. TODO o conhecimento humano adquirido até então foi aplicado naquele momento, e no fim das contas Armstrong mostrou quem mandava e, fazendo jus a seu nome, desceu a Águia na munheca.
Lá da Lua Armstrong e Aldrin (o pobre Collins ficou chupando o dedo. Mas alguém tinha que pilotar a Columbia, o módulo de comando) eles viram o quão pequenos e insignificantes somos, lutando inutilmente por um quinhão de terra nesse pálido ponto perdido na imensidão do universo. Não somos especiais, somos comuns. Somos iguais. Somos efêmeros. Suas pegadas deixadas no satélite perdurarão por muito, muito tempo após termos desaparecido da face da Terra, sem deixar qualquer rastro. Talvez sobre um pouco de isopor. E plástico.
Tal qual Gagarin, Shepard, Komarov, Carl Sagan, Isaac Asimov, Arthur C. Clarke, Robert A. Heinlein e Ray Bradbury, Armstrong tornou-se eterno. Obrigado por tudo, Neil. O senhor nos mostrou que é possível olhar para o infinito não com medo, mas com o brilho nos olhos de um desafio prestes a ser batido. Nós que aqui ficamos o saudamos. Espero que esteja contemplando a Terra tão bela quanto a viu da Lua.