O Diabo Veste Prada: inspiração ou pressão estética?

O Diabo Veste Prada: inspiração ou pressão estética?

O Diabo Veste Prada e o dilema entre empoderamento e padrão estético

O Diabo Veste Prada é um clássico moderno. Lançado em 2006, estrelado por Meryl Streep e Anne Hathaway, o filme se tornou uma referência na cultura pop por retratar o universo da moda com inteligência, ironia e muito estilo. Agora, quase 20 anos depois, a notícia de que a sequência finalmente saiu do papel, com o elenco original retornando, reacendeu debates importantes. Principalmente, o impacto que o filme tem sobre meninas e adolescentes que estão construindo sua autoestima e relação com o próprio corpo.

Será que o filme empodera ou aprisiona? Será que estamos ajudando nossas filhas a se inspirarem na força das personagens ou as colocando numa nova versão da velha gaiola dourada dos padrões?

Vamos olhar com mais calma para tudo isso.

O charme irresistível de Miranda e Andy

É impossível falar de O Diabo Veste Prada sem mencionar Miranda Priestly, interpretada magistralmente por Meryl Streep. Ela é uma mulher no topo, poderosa, exigente e absolutamente respeitada. Sua presença em cena transmite força, foco e uma certa dose de medo. Andy Sachs (Anne Hathaway), por outro lado, começa a história como uma jovem desajeitada, tentando encontrar seu lugar no mundo editorial de moda sem abrir mão de sua identidade.

Esse contraste é parte do encanto do filme. Ele nos mostra como é difícil navegar em espaços onde a aparência, o comportamento e até o peso corporal são ferramentas de aceitação e sucesso. Andy cresce, amadurece e ganha poder, mas a que custo?

E aí entra o ponto mais importante para quem é pai ou mãe de meninas: como elas interpretam essa jornada?

A construção de autoestima em tempos de Tik Tok

Vivemos num tempo em que garotas crescem rodeadas de imagens idealizadas, filtros, trends e “perfis perfeitos”. E embora O Diabo Veste Prada tenha sido lançado antes do Instagram dominar o mundo, ele antecipa uma lógica muito parecida: sucesso exige transformação, e transformação exige sacrifício.

Andy só começa a ser levada a sério quando muda seu guarda-roupa e se molda à estética esperada por aquele ambiente. Isso é empoderamento ou condicionamento?

Para algumas meninas, pode ser inspirador ver que uma jovem consegue se reinventar e conquistar respeito. Para outras, o recado pode soar mais cruel: “Você só será valorizada se se adequar.”

A revista Psychology Today publicou um artigo que toca nesse ponto. Segundo a psicóloga Terri Apter, “quando a narrativa de empoderamento vem acompanhada de um pacote de exigências estéticas, há risco de internalização de inseguranças em vez de fortalecimento da identidade”.

Quando a moda oprime

Não dá para ignorar que o filme vende um mundo de glamour. Saltos altos, desfiles, marcas famosas, roupas caríssimas. E isso tudo tem um apelo muito forte. As meninas assistem e querem entrar nesse mundo. O que não é, por si só, um problema. O problema é quando esse universo passa a parecer o único caminho válido para o sucesso.

Quantas garotas se sentem pressionadas a “melhorar” o próprio corpo, a mudar o cabelo, a esconder espinhas ou celulite para caber nesse molde?

O corpo perfeito vendido pela indústria da moda (e reforçado por tantos filmes, inclusive este) é muitas vezes inalcançável. E é nesse ponto que o filme, ainda que de forma sutil, pode reforçar uma ditadura estética.

Mas há potência, sim

Apesar disso, também é preciso reconhecer os aspectos positivos. Miranda é uma personagem que escapa da caricatura da “mulher poderosa que precisa ser doce para agradar”. Ela é fria, objetiva, brilhante. E ninguém tira isso dela. Para muitas garotas, ver uma mulher assim em posição de poder é revolucionário.

Andy, por sua vez, aprende a se posicionar, a fazer escolhas difíceis e a dizer “não” para o que não a representa mais. Esse processo, embora cheio de concessões, também pode ser interpretado como um caminho de empoderamento.

Então, talvez a resposta não seja tão simples. O filme empodera e aprisiona ao mesmo tempo. Ele oferece modelos femininos fortes, mas envoltos em uma embalagem que ainda carrega padrões antigos.

Anne Hathaway em sua primeira imagem como Andy Sachs em O Diabo Veste Prado 2

A sequência que vem aí

Segundo o The Hollywood Reporter, a Disney confirmou que as gravações da sequência de “O Diabo Veste Prada” começaram. Meryl Streep, Anne Hathaway e Emily Blunt já teriam assinado contrato. A continuação deve acompanhar Miranda lidando com o declínio das revistas impressas e Andy ocupando uma posição de liderança no mundo da mídia digital.

Essa nova fase abre espaço para debates ainda mais atuais: como a moda se reinventa na era digital? O que significa poder feminino em 2025? Como equilibrar imagem e autenticidade num mundo tão conectado?

Se o roteiro for bem conduzido, pode ser uma chance de corrigir rumos e aprofundar temas que ficaram apenas na superfície no primeiro filme.

O que dizer às nossas filhas?

Se sua Padawan assistiu (ou vai assistir) O Diabo Veste Prada, talvez o mais importante seja conversar com ela. Perguntar o que ela achou. Como ela viu a transformação da Andy. O que acha da Miranda. Se alguma coisa no filme fez ela se sentir insuficiente ou pressionada.

Esse tipo de conversa abre espaço para construir senso crítico, autoestima e identidade sólida.

Ensinar nossas filhas a apreciar o que há de forte e inspirador nas personagens, mas também a identificar o que não faz sentido em suas próprias vidas, é parte do nosso papel como pais e mães conscientes.

Conclusão: filme, espelho ou alerta?

O Diabo Veste Prada é um daqueles filmes que provocam discussões e sentimentos mistos. Ele inspira, mas também pressiona. Mostra o poder feminino, mas com filtros e saltos de 12 cm. É um espelho do que a sociedade ainda cobra das mulheres, inclusive das mais jovens.

Ao mesmo tempo, é também uma chance de refletir. Um ponto de partida para conversas sobre identidade, respeito próprio, beleza e sucesso. E quem sabe, com a sequência vindo aí, tenhamos uma nova oportunidade de contar essa história com mais camadas, mais profundidade e mais verdade.

Se você curtiu este texto, compartilhe com alguém que também está criando garotas fortes num mundo cheio de filtros. E me conta nos comentários: o que você acha de “O Diabo Veste Prada”? Um clássico do empoderamento ou um reflexo dos nossos dilemas?