Ozzy Osbourne e a sombra eterna que deixou na cultura pop
Ozzy Osbourne morreu hoje, 22 de julho de 2025, aos 76 anos.
A notícia, mesmo esperada por conta da saúde frágil nos últimos anos, ainda parece impossível. Ozzy não era só um cantor. Ele era um personagem mitológico, desses que atravessam décadas com uma mistura de assombro, carisma e caos. E talvez o que mais assuste agora seja a sensação de que um pedaço da cultura pop também foi embora com ele.
Sim, Ozzy foi a voz do Black Sabbath, banda que praticamente inventou o heavy metal. Mas ele também foi muito além disso. Ozzy virou um símbolo visual, uma piada interna entre gerações, uma referência recorrente em filmes, desenhos animados, quadrinhos, realities e memes. Ele virou parte do nosso repertório cultural, mesmo de quem nunca ouviu um disco dele inteiro.
O roqueiro que virou desenho
Não é qualquer artista que consegue virar personagem em Os Simpsons. Ozzy conseguiu. No episódio em que participa do festival Hullabalooza, aparece como uma versão caricata de si mesmo, arrancando a cabeça de um morcego de borracha. A cena resume bem o espírito do roqueiro: bizarro, autorreferente e com senso de humor sobre a própria lenda.
Em Family Guy, é mencionado de forma cômica como “aquele cara que grita palavras aleatórias”. Em South Park, ele aparece como o Satã original, zombando da própria imagem demoníaca que carregou por décadas.
Até mesmo em Scooby-Doo ele é citado como ícone do estranho, do excêntrico, do inclassificável.
Essas aparições não são apenas homenagens. Elas são sinal de que Ozzy transcendeu o som. Ele virou um símbolo narrativo. Um recurso visual. Um jeito de dizer “isso aqui é muito louco, mas a gente tá junto”.

Realidade mais insana que a ficção
Com The Osbournes, reality show da MTV que estreou em 2002, Ozzy virou a coisa mais inesperada que um ícone do metal poderia ser: pai de família na sala de estar. As câmeras mostravam o dia a dia com Sharon, Kelly e Jack. E o resultado era tão insano quanto honesto.
Era engraçado vê-lo confuso com o controle remoto, xingando o cachorro ou tentando manter alguma ordem. Mas também era tocante. A figura do roqueiro indestrutível dava lugar ao homem tentando manter a sanidade numa casa de celebridades. A série foi um sucesso absurdo, ganhou Emmy e virou referência para toda uma geração de realities familiares. Antes de Kardashians e Jenners, foram os Osbournes que mostraram o caos doméstico como espetáculo.
E, de novo, Ozzy virou personagem. Só que dessa vez dele mesmo.
Ozzy no cinema e nas trilhas sonoras
Nos filmes, Ozzy aparece com frequência em trilhas que pedem intensidade. “Crazy Train” já embalou cenas de ação, paródias e comerciais. “Iron Man” (a música, não o herói) é quase sempre evocada quando se fala em robôs e armaduras (agora estou falando do herói).
Em Trick or Treat (1986), Ozzy interpreta um pastor que condena a música metal. A ironia é tão grande que a atuação se torna um comentário cultural por si só. Um cara que foi acusado por décadas de corromper a juventude, agora assumindo esse papel de forma satírica.
Seja como trilha de fundo ou aparição especial, Ozzy carregava um peso simbólico: ele representava o que é indomável, o que escapa ao controle. Era o barulho que atravessa a cena e a transforma.
Quadrinhos e a estética do delírio
Em 2022, Ozzy virou personagem em Patient Number 9, HQ lançada junto com o disco homônimo. O enredo mistura elementos autobiográficos com uma pegada de horror e psicodelia, criando uma narrativa onde Ozzy é quase um semideus caótico tentando escapar da própria mente.
É mais um exemplo de como ele sempre permitiu que o exagero e a estética do absurdo se misturassem à sua imagem pública. Ele era um ícone gráfico. Seus óculos, seu cabelo, seus crucifixos e sua silhueta viraram parte de um imaginário visual que atravessa capas de álbuns, camisetas, wallpapers e memes.
Ozzy como parte do nosso vocabulário
Quantas vezes você viu alguém se referir a um caos doméstico como “momento Osbournes”? Ou viu o emoji de morcego acompanhado da legenda “crazy train”? Ozzy entrou na linguagem. Virou metáfora. É o símbolo do “não tô bem, mas sigo aqui”. O caos que se mantém em pé.
Ele era a caricatura do roqueiro e, ao mesmo tempo, a subversão dessa caricatura. Era o homem que arrancava a cabeça de um morcego no palco e depois chorava de medo no sofá da sala.
A sombra que ele deixa
Ozzy era uma entidade. E talvez por isso sua morte soe mais como o encerramento de um ciclo histórico do que de uma vida comum. Ele levou o metal para o centro da cultura, mas também levou o estranho para o centro da mesa de jantar. Foi amado por metaleiros, comediantes, cineastas, animadores e adolescentes que nem sabiam seu nome completo, mas reconheciam a gargalhada.
Hoje, dia 22 de julho de 2025, perdemos um artista, mas ganhamos um mito consolidado. Um símbolo que vai continuar surgindo nos lugares mais improváveis, sempre com aquele olhar meio perdido, meio debochado, e com a certeza de que a escuridão nunca esteve tão viva quanto quando Ozzy estava no palco.
E de alguma forma, ele sempre estará.