Eu gosto muito da cultura japonesa. Ela tem um misto de “do futuro”, tradição e bizarrice que muito me atrai. Porém tem vezes que os japoneses passam do limite do bom senso, apesar de nesse caso o motivo ser cultural (mas não é atenuante).
A pisada na bola em questão veio desse vídeo do integrante da boy band Kat-Tun Koki Tanaka, em que aparece vestido com um uniforme da Schutzstaffel, a organização paramilitar do Partido Nazista. Tanto a águia-símbolo do Terceiro Reich quanto a Totemkopf são facilmente identificáveis.
O Japão lutou ao lado da Alemanha na 2ª Guerra, e as gerações mais novas aparentemente não foram ensinadas sobre o que o nazismo realmente representa para o mundo. Claro que isso é objeto de estudo, mas obviamente é dado muito mais ênfase aos ataques nucleares e aos hibakusha (os sobreviventes da bomba), pois foram as consequências diretas que o Japão sofreu. Aliado ao fato que a comunidade judaica por lá é minúscula, o uso da iconografia nazi é bem comum, e é conferido até um certo ar de “romantismo”.
Não é um caso isolado. Anteriormente, um grupo musical chamado Kishidan havia aparecido na TV com trajes similares ao da SS. Noutro caso, uma marca de cosméticos fez uma campanha em que ilustrava as atrizes do Takarazuka (um dos maiores grupos de teatro do Japão onde só contracenam mulheres, inclusive nos papéis masculinos) com e sem maquiagem. O erro foi da empresa ao estampar uma das atrizes com o mesmo uniforme em outdoors expostos em estações de metrô e outros lugares. A atriz em questão interpretava um coronel da Gestapo na peça “The Prisioners of Lilac Walls” e novamente, não é culpa do grupo.
Mas teve uma pessoa que estourou todas as escalas: o cantor / ator / compositor /multinstrumentista/produtor/faz-tudo GACKT (o nome artístico dele é assim mesmo, com todas as letras em maiúsculo. Egocêntrico? Imagina…). Eu até gosto da música dele, apesar de ser um metido de marca maior. Mas isso aqui não tem desculpa:
Uma tropa da SS inteira no palco. Não que hyde, vocalista da banda L’Arc~en~Ciel, tenha feito muito diferente (e olha que sou fã do grupo).
Eu amo o Japão por ter me dado boas animações, boa música, videogames legais e o AKB48. Mas ter sido derrotado na guerra, sofrer com duas bombas atômicas e ser humilhado com uma rendição incondicional não dá permissão para se vestir de nazi fora de contexto (com num filme ou na peça do Takarazuka) e achar que está tudo bem, porque não está. Deste lado do mundo esse uniforme representa a morte de milhões de seres humanos e passa longe de ser algo bonitinho, além de pegar mal pra caramba.
Príncipe Harry que o diga.