Sempre que vou ao mercado ou farmácia coloco máscara, óculos de proteção e uso uma roupa específica para isso (uma blusa leve, para tampar os braços, e calça comprida). Ao chegar, praticamente tomo banho de álcool, coloco minhas roupas e máscara para lavar e limpo o óculos com álcool 70%.

Esses são os protocolos básicos para diminuirmos os riscos de pegar COVID19. Lembrando que o SARS-CoV2 se transmite de pessoa a pessoa predominantemente por gotículas respiratórias emitidas ao ambiente quando respiramos, falamos, tossimos, espirramos. Ou seja, não devemos ficar muito tempo no mercado e nem na farmácia, pois a equação é: exposição ao vírus x tempo.

A Leticia Kawano Dourado, médica pneumologista e pesquisadora clínica do Hospital do Coração em São Paulo e Doutora em Pneumologia pela Faculdade de Medicina da USP pegou o compilado do colega Prof. Erin Bromage, professor de Biologia da Universidade de Massachusetts Dartmouth e fez um post explicando como as pessoas estão contraindo a covid19.

Confira após minha linda e maravilhosa foto.

Em casa

O local de maior risco para contrair a covid19 é o contato dentro de casa com alguém infectado. O cenário domiciliar propicia um contato próximo e prolongado em ambiente fechado, o local ideal para a transmissão da covid19, que se dá predominantemente por gotículas. Então em casa, caso haja a combinação de grupos de risco com pessoas que estão ainda precisando trabalhar, o ideal seria afastar por completo esses dois grupos (mudança temporária?). Caso não seja possível esforços para minimizar risco de (potencial) transmissão precisam estar sendo feitos constantemente. Por exemplo:

  • não dormir no mesmo ambiente
  • separar objetos de uso pessoal (toalha de rosto e banho, objetos de cozinha etc)
  • janelas abertas
  • sentarem-se distantes se no mesmo ambiente
  • uso de mascara simples dentro de casa para evitar a deposição de gotículas em mesas, sofas, etc
  • higiene de mãos com alcool 70% ou agua e sabao e higiene de superfícies com agua e sabao, alcool 70% ou cândida a 0.1% (não precisa ser a 2,5%).
  • não tocar boca, olhos, nariz sem ter as mãos higienizadas antes.

E fora de casa, onde são os locais mais perigosos?

Alguns colegas fizeram um verdadeiro trabalho de detetive científico compilando os surtos de covid19 em 18 países do mundo: recomendo essa leitura que está excelente. Esses surtos nos informam exatamente sobre a dinâmica de transmissão externa da covid19. Tirando casas de repouso, que são locais de altíssimo risco de transmissão da covid, qualquer ambiente fechado com alta densidade de pessoas = a risco importante.

1. Empresas de produção e embalagem de carne: Nesses locais há ambiente frio – que conserva o vírus – muitos funcionários juntos precisando falar alto uns com os outros por conta do barulho das maquinas de fundo em um ambiente fechado. Nos EUA houve surtos em nada menos que 115 empresas em 23 Estados norte-americanos infectando > 5000 trabalhadores e mantando ~20.

2. Eventos sociais (casamentos, funerais, aniversários) foram responsáveis por 10% da transmissão comunitária inicial

3. Eventos de trabalho, conferências, encontros e reuniões. Pelos mesmos motivos citados nos itens 1 e 2.

O que acontece nesses locais (ambiente fechado com pessoas dentro)?

Em restaurantes, por exemplo: Há documentação do estrago que fez por exemplo uma pessoa infectada assintomática em um restaurante, que está bem representada na figura abaixo. Note que a pessoa infectada A1 sentou-se para jantar com 9 amigos. Jantar durou 1,5 hora. Durante esse tempo o A1 liberou baixas quantidades de particula viral no ambiente enquanto conversava, no entanto a exposição durou 1,5 horas, o que determinou a infecção das 9 pessoas, marcadas na figura e os respectivos momentos em que apresentaram sintomas.

E em ambientes de trabalho? Outro exemplo excelente para ilustrar como a covid19 é contagiosa foi o surto foi a contaminação de 94 funcionários (de um total de 216 que trabalhavam naquele andar) a partir de 1 caso (!) em um serviço de call center. Dos 94 contaminados, 92 tiveram sintomas e apenas 2 apresentaram a forma assintomática. Veja a figura abaixo. É interessante de observar que apesar de haver significativa interação desses funcionários com outros de outros andares, a transmissão se restringiu ao andar onde trabalhava o caso índice apontando a importância de carga viral x tempo para haver contaminação efetiva. Notem que aqui houve contaminação de pessoas com muito mais de 2 metros de distancia umas das outras (havia distancias de 15 metros!). Por que? Ambiente fechado, exposição prolongada (a baixa carga viral, ao final de horas e horas chega no limite necessário para desencadear infecção).

Igrejas: Igrejas reunem todos os ingredientes para surtos de covid, que são eles: ambientes fechados, densamente frequentados e uso de voz – cantos, respostas ao celebrante (aumento da emissão de partículas no ambiente) por um período prolongado. Na presença de cantos, há um aumento ainda maior no risco de transmissão pois há inspiração profunda (levando partículas virais para dentro do pulmão) seguida de expiração forçada (expelindo mais partículas que na fala comum). Há um surto bem documentado no Estado de Washington nos EUA onde pessoas se encontraram para um ensaio do coro da igreja. Alertas da covid, evitaram apertos de mãos ou abraços e mantiveram distancia entre si durante o ensaio. Ninguém estava sintomático no momento desse ensaio e o ensaio durou 2,5 horas. Apos 4 dias, 45 pessoas (de 60) que estavam presentes nesse ensaio desenvolveram sintomas da covid19 e 2 pessoas morreram.

Aniversários e Funerais: a documentação desse caso que vou descrever aqui mostra a importância de conseguir identificar e isolar casos assintomáticos. Vejam o estrago (o rastro de doença e morte) de uma estória real ocorrida em Chicago no Estado de Illinois, EUA:

“O nome é falso. Bob estava infectado pela covid19, mas não sabia. Bob compartilhou uma refeição servida em pratos comuns com 2 membros da família. O jantar durou 3 horas. No dia seguinte, Bob compareceu a um funeral, abraçando membros da família e outros presentes para expressar condolências. Dentro de 4 dias, os dois membros da família que compartilharam a refeição adoeceram. Um terceiro membro da família, que abraçou Bob no funeral, ficou doente. Mas Bob não tinha terminado. Bob participou de uma festa de aniversário com 9 outras pessoas. Eles se abraçaram e compartilharam comida na festa de 3 horas. Sete dessas 9 pessoas ficaram doentes. Nos dias seguintes, Bob ficou doente, foi hospitalizado e morreu.

Mas o legado de Bob continuou vivo. Três das pessoas que Bob infectou no aniversário foram à igreja, onde cantaram, passaram pelo prato do dízimo etc. Os membros dessa igreja ficaram doentes. No total, Bob foi diretamente responsável por infectar 16 pessoas entre 5 e 86 anos de idade. Três delas morreram.

Acredita-se que a propagação do vírus dentro da casa e de volta à comunidade através de funerais, aniversários e reuniões da igreja seja responsável pela transmissão mais ampla do COVID-19 em Chicago.”

Supermercados: Para entender se o supermercado é ou não um ambiente de risco, considere o tempo que você gasta fazendo compras e a densidade de pessoas no momento das suas compras – tudo isso vai influenciar no risco de contaminação por gotículas inaladas. Além disso há o risco da transmissão por contato de superfícies contaminadas, motivo pelo qual um cuidado redobrado com a higiene de mãos e produtos deve ser tomada. Tenho postado regularmente sobre esses cuidados no meu Instagram e facebook e tenho algumas dicas nesse sentido no meu canal do Youtube para os que quiserem mais detalhes.

Ambientes abertos/ventilados, com poucas pessoas, em geral, são seguros

Lembre-se de que “dose e tempo” são necessários para ocorrer a infecção. Se você está em um ambiente externo e passa andando por alguém, você teria que estar na corrente de ar dessa pessoa por mais de 5 minutos para ter uma chance de infecção. Embora os corredores possam estar liberando mais vírus devido à respiração profunda, lembre-se de que o tempo de exposição também é menor devido à sua velocidade. Mantenha distância física, mas o risco de infecção nesses cenários é baixo. Aqui está um ótimo artigo no Vox que discute o baixo risco de correr e andar de bicicleta em detalhes. No entanto, lembre que há o trajeto até o parque, circuito, e aí pode ser maior o risco, como por exemplo, elevadores.

Note que nesse post foquei bastante em transmissão pelo ar da covid19, mas lembrem-se que há a transmissão por superfícies contaminadas: a mão se contamina e essa mesma mão é levada na boca, olhos e nariz, determinando a infecção;

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